Cultura afro-brasileira pode ser praticada em Balneário Camboriú
O maracatu é uma tradição afro-brasileira e um movimento da cultura popular que envolve música, dança e história. O ritmo chegou ao Brasil com os negros escravizados e por séculos os homens dominaram os instrumentos. Até que em 2008, a mestra Joana Cavalcante, de Recife (PE), decidiu criar o Baque Mulher, um movimento de mulheres batuqueiras que buscava o empoderamento feminino, o combate às opressões, a solidariedade em comunidade e o acolhimento a crianças e adolescentes.
O Baque Mulher chegou a Santa Catarina por Balneário Camboriú, mais precisamente pelo bairro da Barra, em 2018, trazido por batuqueiras que conheceram o coletivo em Recife. Hoje, reúne mais de 60 mulheres e o grupo também tem um braço em Itajaí, além de ações em cidades de toda a região.
A jornalista gaúcha Vanuza Azevedo explica que o Baque Mulher usa o maracatu como uma ferramenta para aproximar as mulheres e promover o empoderamento. “Também é uma forma de dizermos não a todo e qualquer tipo de violência que a mulher venha a sofrer, seja física ou psicológica, assim como uma forma de dizer não ao preconceito e discriminação de gênero, e às intolerâncias raciais e religiosas”, explica. Ela mora há dois anos em Balneário Camboriú e conta que foi no Baque Mulher que encontrou o acolhimento que precisou ao se mudar para uma cidade desconhecida. “E homem no grupo é só pra carregar caixas pesadas e fazer a segurança das batuqueiras”, conta.
Juntas sempre
Aqui vale o velho jargão de que ‘a união faz a força’. “Ser Baque Mulher é se dedicar à coletividade, à construção, à quebra do paradigma dessa competitividade que existe entre as mulheres. É mostrar que a gente consegue viver em coletivo e que a união nos fortalece a enfrentar nossos desafios, cada uma com a sua realidade”, explica a oceanógrafa Mariana Paul de Souza Mattos. Ela iniciou no Baque Mulher Balneário Camboriú em 2018 e garante que o coletivo possibilita que a mulher aprenda com suas ancestrais a força de viver em comunidade.
Já a servidora pública Ligia Deboni Piazza conheceu o Baque Mulher em 2015, no carnaval de Recife. Ela então começou a ler e acompanhar o surgimento do coletivo em outras regiões do Brasil. No entanto, embora participasse de algumas oficinas e ações em Balneário Camboriú, ela só ingressou no movimento com a expansão do grupo para Itajaí, em 2022. Ligia mora em Navegantes e a distância a impedia, na época, de participar de todas as ações do Baque.
Rosa e laranja presentes em 35 filiais
Mariana explica que o movimento de empoderamento feminino Baque Mulher - Feministas do Baque Virado teve suas raízes plantadas por uma mulher negra, mãe de santo do terreiro de candomblé Ylê Ashé Oxum Deym, na periferia de Recife, em Pernambuco. Atualmente, são 35 filiais ativas no Brasil, Portugal e Bélgica. O coletivo, conduzido exclusivamente por mulheres, traduz a cultura ancestral e negra pelos quatro cantos. As cores que identificam o Baque Mulher são rosa e laranja, simbolizando as orixás de guerra, Yansã e Obá, guardiãs do movimento.
Há seis anos atuando em Balneário Camboriú e na região, o maracatu do Baque Mulher reúne centenas de mulheres, batuqueiras ou não, em oficinas de maracatu em espaços públicos. São vivências em escolas, centros comunitários, entidades de apoio a mulheres em vulnerabilidade social. Além de difundir o maracatu, fomenta debates sobre o protagonismo das mulheres na cultura popular, direitos das mulheres, combate à violência de gênero e intolerância religiosa.
“O Baque Mulher me mostrou a possibilidade de construir com mulheres a força para ajudar outras mulheres, para empoderar, para que a gente saiba que pode tocar, cantar, mas que também pode se livrar dos relacionamentos difíceis, abusivos”
Fotos: Joca Baggio e Divulgação