Historiadora Mariana Schlickmann fala sobre os principais marcos que moldaram os 60 anos de BC
Balneário Camboriú, cidade conhecida por suas belezas naturais e como referência urbana, passou por transformações radicais ao longo das suas seis décadas de existência. Da verticalização – que alterou fortemente a paisagem urbana –, aos impactos de infraestrutura como a nova orla que será única no Brasil, a historiadora Mariana Schlickmann destaca os marcos que redefiniram a identidade da cidade.
A verticalização foi um processo marcante que redefiniu o skyline de BC. De acordo com Mariana, foi nos anos 1920 que Balneário Camboriú começou a atrair turistas, ainda como "praia de Camboriú". Com o surgimento das primeiras pensões e hotéis, o potencial turístico passou a ser explorado. As pessoas buscavam BC para passar a temporada de verão, impulsionando a demanda por acomodações permanentes e levando à construção dos primeiros prédios residenciais da cidade.
“Muita gente queria adquirir um lugar para passar o verão inteiro. Casa é uma coisa que dá muito mais trabalho, tem menos segurança, então começaram os primeiros prédios da cidade para atender a demanda do veranista, não do turista apenas. E aí foi um boom”, explica Mariana.
O presidente João Goulart e a BR-101
O crescimento acelerado trouxe desafios para a mobilidade urbana. Mariana destaca que uma das mudanças mais significativas foi a construção da BR-101, influenciada pelo presidente João Goulart, que tinha uma casa de veraneio em BC.
A rodovia, que poderia ter passado mais ao interior da região, foi direcionada para ficar próxima à costa, facilitando o acesso e impulsionando o desenvolvimento regional. A construção da BR-101 nos anos 1970 foi um marco para o desenvolvimento e integração regional do litoral.
Com o desenvolvimento econômico e a expansão do setor imobiliário, a população cresceu exponencialmente. A historiadora observa que as avenidas principais foram adaptadas para incluir ciclovias e passeios, promovendo a mobilidade urbana. A expansão das vias e a reestruturação do trânsito refletem o planejamento urbano para atender à crescente demanda.
“Balneário Camboriú há décadas está entre os melhores IDHs do Brasil. Isso chama muita gente que quer qualidade de vida a vir morar na cidade. É um lugar sempre com vagas de emprego disponíveis. Isso é um grande atrativo”, completa.
Cenário cultural
A historiadora destaca a cena cultural vibrante, sustentada por artistas e espaços dedicados à arte e ao entretenimento. Locais como o Art House, que exibe filmes fora do circuito comercial, o Teatro Municipal e eventos como o Sarau da Tainha, no bairro da Barra, são exemplos do dinamismo da cidade.
Uma das iniciativas culturais marcantes na história da cidade, segundo Schlickmann, é o cinema. Ela relembra o Cinerama Dellatorre, um dos primeiros da região e cita que a família Dellatorre, por seu pioneirismo no segmento, também criou o Museu da Imagem e do Som.
Desafios
Apesar dos avanços, Balneário Camboriú enfrenta desafios como a crescente inacessibilidade de moradia para a população local devido à valorização imobiliária. E isso pode trazer desafios para repor mão de obra e manter a qualidade de vida. “O valor das moradias está cada vez mais inacessível para um morador comum. A gente vê gerações de pessoas que moraram aqui, de famílias que vieram primeiro os avós, cresceram na casa dos pais, e hoje essas pessoas não conseguem continuar morando na cidade. Fica inviável a sua casa própria, porque o preço tanto para adquirir quanto para alugar está ficando cada vez mais insustentável”, completa.
Equipamentos turísticos
A cidade tem investido em equipamentos turísticos públicos e privados. A via de acesso às praias agrestes – Interpraias, a redefinição da Estrada da Rainha e atrações como o Parque Unipraias e a Big Wheel são exemplos de investimentos que diversificaram as opções de lazer, destaca a historiadora. Recentemente, museus e parques temáticos privados, como o aquário e o parque dos dinossauros, surgiram para atender a demanda por entretenimento além das praias, opções de lazer que fogem do turismo sazonal de verão.
“Essas últimas inaugurações vieram para ajudar a suprir essa demanda por atrativos permanentes, além das praias em si”, acrescenta Mariana.
Fotos: Acervo histórico municipal de BC