A inclusão da comunidade LGBTQIA+ transforma Balneário Camboriú em destino preferido e impulsiona o crescimento econômico

BC está na rota do turismo que mais fatura no mundo

A inclusão da comunidade LGBTQIA+ transforma Balneário Camboriú em destino preferido e impulsiona o crescimento econômico


A pesquisa da Organização Mundial do Turismo (OMT, 2023) confirma que um em cada 10 turistas é LGBTQIA+ que respondem por 15% do faturamento de todo o setor. Estima-se em 218 bilhões de dólares o tamanho deste nicho de mercado em nível global. “Como a maioria deste público não tem filhos e dedica boa parte do seu rendimento às viagens, acaba gastando mais em lazer do que o turista regular”, confirma o diretor do hotel Sibara, Osny Maciel Jr. O hotel é o maior de Balneário Camboriú em número de leitos (850) e também o primeiro a receber o selo Travel Proud, criado pela plataforma de reservas Booking na Holanda em 2021 e lançado no Brasil em junho de 2023. 

Para obter o selo Travel Proud, a plataforma leva em conta três critérios: hospedagem acolhedora, treinamento de pessoal para atender turistas LGBTQIA+ e uso de linguagem inclusiva, sem limitação de gênero e uso do nome social, se for o caso.


Este reconhecimento da Booking não foi por acaso. O hotel Sibara é parceiro da Parada da Diversidade desde a primeira edição, oferece hospedagem gratuita para convidados que desfilam no trio elétrico e abre o espaço de eventos para coletivas e palestras. Todo ano, a bandeira do arco-íris, símbolo da luta por direitos civis, tremula em frente ao hotel durante a Semana da Diversidade, que informa sobre a programação até dentro dos elevadores.

“Saímos na frente porque fazemos a inclusão em nosso ambiente de trabalho há muitos anos. Criamos um espaço respeitoso para os funcionários, independentemente de orientação sexual e identidade de gênero. Por que seria diferente com os hóspedes?”, argumenta Osny. Para ele, empresas inclusivas ganham a lealdade do público, têm retorno econômico e respaldo internacional. E em países com leis antidiscriminatórias, como o Brasil, as empresas devem adotar práticas inclusivas. “Inclusive do ponto de vista legal, é uma proteção contra futuros litígios”, pontua. 

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Equipe diversa promove ambiente criativo e inovador

Comunidade LGBTQIA+ se destaca no setor de serviços

Osny Maciel Jr. está à frente do hotel Sibara há 12 anos e também preside a associação brasileira de empresas realizadoras de eventos, em Santa Catarina. Ele conta que grande parte dos trabalhadores da rede hoteleira também é LGBTQIA+ e se destaca no setor por conta da sensibilidade e empatia, características essenciais para uma boa comunicação. “Eles trazem uma perspectiva única de compreensão e entendimento das necessidades e expectativas dos clientes LGBT+, resultando num atendimento mais personalizado”, destaca.


Para ele, uma equipe mais diversa enriquece a organização e promove um ambiente criativo e inovador, além de melhorar o moral dos funcionários, que se sentem valorizados. “Infelizmente, há muito preconceito e discriminação contra a comunidade, que ainda é marginalizada e carece de oportunidades. Empatia está em falta no mercado”.

Grande fluxo de turistas não garante boa colocação no ranking da hospitalidade

O Brasil é um dos países que mais recebe turistas LGBTQIA+, de acordo com o Gay Travel Index de 2023. São Paulo tem a maior Parada do Orgulho do mundo, que leva à avenida Paulista mais de três milhões de pessoas. Mas em questão de hospitalidade, o país ocupa a 34ª posição, ficando atrás de países europeus, mas também da Argentina e do Chile. Pesa contra nós o alto índice de violência contra membros da comunidade e a interferência religiosa, que não respeita a laicidade do Estado e os direitos civis a.


Segundo pesquisa da Booking, 92% dos turistas LGBTQIA+ relataram que precisam considerar a própria segurança e bem-estar ao escolher um destino, já que, em alguns países, a homossexualidade ainda é criminalizada. E quase metade deste público cancelou uma viagem depois de descobrir que um destino não apoia quem se identifica como LGBTQIA+.

Balada eletrônica resiste à pressão imobiliária e inova 

Quando Juan Luis Frohn, 31 anos, pensou em um nome para sua casa noturna, queria algo grandioso, que indicasse um crescimento contínuo, e fosse tão democrático e eclético quanto as letras da sigla LGBTQIA+. E assim nasceu a The Grand, que reúne 2600 pessoas ávidas por diversão no fim de semana, honrando a tradição da Barra Sul, que ficou conhecida nacionalmente pela vida noturna, mas hoje ostenta dezenas de prédios de luxo.

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DJ Juan Frohn apostou na fidelidade da clientela

“Balneário Camboriú sempre foi conhecida como uma cidade cosmopolita, onde você pode encontrar o que quiser, seja dia ou noite, mas a atual política quer restringir cada vez mais a vida noturna, esquecendo que quem mora aqui também tem direito à diversão”, desabafa Juan, que está se preparando para abrir a terceira casa na capital. Ele conta que o fato de a cidade ter o m² mais caro do país dificulta a vida dos empresários da noite. “O valor do aluguel em Floripa, em plena Beira-Mar Norte, é R$ 45 mil, enquanto em Balneário é R$ 70 mil”, exemplifica. 

Mas esses percalços não desanimam o empreendedor, que ousou abrir a casa em novembro de 2020, passada a primeira onda de covid, acreditando no potencial e na demanda reprimida por contato social. Após um período fechado em razão da pandemia, a casa voltou com tudo. “Eu fiz questão de dar oportunidade a todos da comunidade curtirem a noite, independentemente da classe social, por isso deixo a entrada liberada (com exceção de sábado), o que garante casa cheia, e o faturamento vem do consumo de bebidas”, revela.


Na quinta-feira, o som que domina as pick-ups é o funk, que agrada a geração Z. Na sexta, tem um pouco de tudo: funk, eletrônico e pop. E no domingo volta o funk, dia que é frequentado por quem ralou na noite de BC e quer extravasar a tensão na pista. “No bar também faço questão de ter drinques acessíveis, assim todos podem se divertir e interagir”, garante. Ainda assim, o tíquete médio por cliente é R$ 95, considerado alto em relação a outras baladas.

Segurança

O sucesso da The Grand levou Juan a abrir a segunda casa em Curitiba em 2023, onde gera 48 empregos, somando aos 82 postos de trabalho de Balneário. Boa parte da prata da casa também é LGBTQIA+, mostrando o duplo papel do empreendimento para a comunidade. “Meu público tem essa sede por diversão; muitos chegam aqui depois de serem expulsos de casa, terem sofrido agressão no trabalho ou na rua, e nas baladas hétero são maltratados e vistos com desconfiança. Aqui a gente acolhe e se diverte, por isso é um público tão fiel”, explica.

Por ter essa postura confiante e assertiva, Juan participou ativamente da 1ª Conferência LGBTQIA+, realizada em junho, mês dedicado à diversidade. Além de apontar a questão da capacitação dos atores do turismo para atender às demandas da comunidade, Juan chamou a atenção para o reforço da segurança. “Já tive clientes que apanharam na saída da boate, chamaram a polícia e em vez de autuarem o agressor, culparam as vítimas. Isso não pode mais acontecer numa cidade que pretende ser referência internacional”, opina.


Pioneira DLed focou no nicho do eletrônico tribal e festas temáticas

Na Quarta avenida há 13 anos, a DLed tem feito a alegria da comunidade com sua batida tribal house, um ritmo criado nos anos 80 em São Paulo e revitalizado nos anos 2000 para uma nova geração de fãs da música eletrônica. A balada é aconchegante, com capacidade para 314 pessoas, o que garante a proximidade dos baladeiros com os DJs, que se revezam durante a noite de sábado. Já na sexta-feira rola uma festa fechada de hip-hop. 

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Sonzêra tribal house e festas temáticas são o forte da D Led

Outro forte da casa são as festas temáticas, realizadas a cada seis meses e produzidas pelo DJ Rey Rivera, que capricha na decoração e figurino para todo mundo entrar na brincadeira. Já teve festa inspirada em filme de faroeste, com a temática Garden, Arraiá e Halloween, comandada por DJs nacionais e internacionais. Já a Festa Galáctica é reservada a DJs iniciantes, uma forma de prestigiar os futuros profissionais da noite que vivem em Balneário. “Isso cria um vínculo dos DJs que tocaram pela primeira vez com a DLed, que hoje tem um público fiel entre 25 e 45 anos”, conta o gerente da casa, Iago Martins, 30 anos.


Na DLed, o tíquete médio por cliente chega a R$ 120, demonstrando que, quando se trata de diversão, o público LGBTQIA+ não economiza.

Outra balada que gera expectativa no público e dividendos para a cidade é a festa “The Box”, que foi realizada pela última vez no Music Park BC em novembro de 2022, com capacidade para 1500 pessoas. Por problemas de saúde, o produtor Johnatan Oliveira foi obrigado a diminuir o ritmo, mas promete voltar em 2025. A festa, que já aconteceu na Praia Brava e em Floripa, é conhecida pelo luxo e glamour na produção e excelência nas atrações artísticas.

SERVIÇO
DLed
– Quarta avenida, 136
Horário: das 23h às 5h (sábado)

Sabores únicos e atendimento acolhedor

As jogadoras de handebol Karoline Souza e Bárbara Arenhart tinham o sonho de abrir um negócio em Balneário Camboriú que fosse sustentável economicamente e refletisse os anseios da comunidade LGBTQIA+. Então buscaram a expertise da chef de cozinha Mara Bonetti, 42 anos, para comandar a Rex Pizzaria, inspirada no modelo húngaro de servir pizza com cerveja no balcão, o cliente pegar e sair andando. Só que a inauguração foi em dezembro de 2019, dois meses antes da OMS decretar a pandemia. O que segurou o negócio foi a fidelidade do público que viu ali um ambiente livre de preconceito.

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A jogadora de handebol Karoline (à direita) e a chef Mara abriram pizzaria feminista e anti-homofobia

“Somos uma casa feminista, anti-homofobia, antigordofobia, que respeita as minorias que se sentem à vontade não só para lanchar, mas para apresentar os pais à namorada, por exemplo”, afirma Mara.

Os veganos também fizeram a diferença neste período, já que são poucos os estabelecimentos que levam a sério a tendência forte na geração Z. “E como os produtos veganos são de alto custo, fui estudar como fazer o queijo aqui mesmo, à base de amendoim, além de usar carne de jaca com molho barbecue, ninguém nota a diferença”, revela.


Ela disse que também dá preferência à contratação de mulheres, pois teve problemas com rapazes que achavam que estavam sendo cantados pelos clientes. A casa também se tornou um refúgio para pessoas trans, que estão fazendo tratamento hormonal.

“Como a voz muda durante o processo, não é em todo lugar que eles e elas se sentem bem e são bem atendidos”, explica Mara, que também quer desmistificar o estereótipo de uma casa LGBTQIA+. “Muita gente ainda pensa que por sermos da comunidade tem gente aqui se agarrando e é bem pelo contrário, o ambiente é superfamiliar”, esclarece.

Para incrementar o acesso dos internautas na página do Instagram (@rexpizza.co), Mara começou a fazer reels criativos, apesar da timidez inicial. O resultado surpreendeu: cada vídeo tem alcançado cerca de quatro mil views em apenas duas horas. “É como vender a experiência de vir ao Rex, um tiranossauro que na nossa casa é vegano”.

SERVIÇO
Rex Pizzaria:
rua 1500, 551, sala 5
Horário: de terça a domingo, das 18h às 23h
Fone: (47) 99647-3002


Fotos: Franciele Marcon, Divulgação e arquivo pessoal